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Descomplicando a arquitetura

Arquiteto do mês | Peter Zumthor

Atualizado: 13 de jul. de 2020


Nome Peter Zumthor

Nascimento Suíça, 1943

Pritzker de 2009

Formação: Arquitetura e interiores

Pratt Institute, NY.



"As raízes do nosso entendimento sobra arquitetura está em nossa infância, na nossa juventude. Elas estão na nossa biografia."

Todo mês traremos um arquiteto diferente como referência, para expandir os horizontes. O intuito será passar seus principais valores e a visão de design, bem como a percepção que temos de seu trabalho. Não entraremos muito no mérito das características e materiais para pesquisa, e sim uma reflexâo sobre sua obra e sua visão do arquiteto em si. Deixaremos sempre como referência os materiais utilizados para redigir o artigo, para que neles vocês possam obter informações técnicas e materiais de pesquisa. As fontes das imagens serviram de inspiração para o texto.

Este mês, iniciamos com Peter Zumthor. Um dos meus arquitetos favoritos e talvez o favorito.



VALS THERMAL BATHS

1996, Vals, Suíça;


O projeto é uma casa de banhos termais. Um costume muito comum em diversos países onde o frio colabora com este costume. Este projeto é considerado o mais icônico de Zumthor e nele vemos nitidamente sua característica mais relevante.

Por possuir uma forte influência de sua formação em design de interiores, ele tem uma preocupação com o interior de seus projetos tanto quanto o exterior. É como se para ele, fossem uma coisa só. Há três coisas neste projeto que fazem uma composição única: O entorno, as pedras utilizadas e a coloração da água. Na parte aberta elas criam uma atmosfera que permite ao visitante sentir-se acolhido mesmo com o clima frio da região. Ao adentrar já se tem a impressão de estar transitando entre dimensões.

A atmosfera deste projeto transparece uma naturalidade como se o ambiente tivesse sido esculpido pela natureza. Assim como ele mesmo disse, que queria criar uma edificação que parecesse que estivera sempre ali. Esta é outra das características que mais se sobressaem, a ambientação. Ou atmosfera como ele mesmo diz.

Zumthor é conhecido por não fazer composições muito carregadas de materiais e revestimentos. Isso deixa nítido que seus projetos, por possuírem sempre um material principal, denotam uma identidade forte e uma presença imponente, quase que de autoridade.


fonte: architectuul.com


Zumthor queria criar um ambiente condizente com oque o ato de banhar-se representava para ele. Tirando a identidade do projeto de seu propósito. Ele pensava que o ato de banhar-se vinha da antiguidade e consiste em lavar não só o corpo, mas a alma. Consiste no contato silencioso do corpo com a água, diferentes temperaturas e as pedras. Com esta premissa ele atingiu a ambientação quase que espiritual que desejava. Por este motivo também as pedras escolhidas foram utilizadas.


"Interiores são como grandes instrumentos, coletando sons, amplificando-os, transmitindo-os para outros lugares."

Da forma que foi construído, com pedras e uma abertura minimalista na cobertura para a entrada de luz natural, banhar-se torna-se uma experiência sensorial completa. Pois, além do tato com a água, temos o som das águas batendo nas pedras, as sensações térmicas do nosso contato com as pedras e a arte que o vapor cria em seu encontro com os raios de luz.



BREGENZ ART MUSEUM

1997, Bregenz Austria.


Nesta obra podemos observar que Zumthor consegue atribuir vida às suas criações de forma poética. A primeira vista um bloco de vidro translúcido não parece nada vivo. Entretanto, a forma como a fachada foi projetada, com os vidros sobrepostos, permite que o ar e a luz entrem de maneira muito bem controlada. Segundo ele a brisa que vai e vem, representa a respiração do museu. O fato de os vidros serem translúcidos faz com que por fora vejamos apenas se há ou não há luz. E isso representa o abrir e fechar dos olhos do museu. Mais poético, impossível. Um detalhe interessante é que nenhum parafuso foi utilizado na aplicação dos vidros. Eles são fixos por um sistema de apoio metálico que segura as peças através de braçadeiras. Isso não só facilita a montagem como garante maior resistência ao vidro.




SAINT BENEDICT CHAPEL

1998, Sumvitg, Suiça.


Simplicidade que diz muita coisa. Para mim esta é uma das grandes capacidades de Zumthor. Esta capela é composta apenas pela sua nave principal.

Ela fica localizada em um desnível considerável. Ao invés de trazer a terra até o nível dela, Zumthor elevou-a como se fosse um farol. Ela possui um formato de gota, ou barco.

Uma outra característica muito marcante da arquitetura de Zumthor é a naturalidade. Como se as obras fossem formações naturais. O modo com que elas interagem com o meio ambiente traz uma sensação de que não saímos da natureza ao adentra-las.

Os blocos utilizados na base da capela, assim como a obra de seu estúdio em Haldenstein, não deixam de mostrar as pátinas do tempo e das intempéries na edificação.


fonte: tyylit.com


fonte: archdaily.com.br


O telhado se distribui por caibros dispostos em formato de uma folha, como se fossem os veios da folha. Eles transferem a carga para os pilaretes também de madeira, dispostos ao redor do espaço. Com isso a estrutura faz o papel de sustentação e composição plástica de uma forma simples, porém muito eficaz e bela.

Parece algo simplório, mas a escolha de fazer as aberturas de iluminação na parte superior, aproxima a luz da origem divina, como se ela viesse do céu.


"Eu não compreendo a luz, Ela me dá a sensação de que há algo além de mim."


SWISS SOUND BOX

2000,Hanover, Alemanha.


A Swiss Sound Box foi projetada para ser o pavilhão temporário da Suíça durante a Hanover World Fair de 2000. De acordo com os conceitos citados anteriormente que compõe a arquitetura de Zumthor, ele seria o arquiteto perfeito para criar o pavilhão que a Suíça queria para esta feira. Eles desejavam transparecer que a Suíça era um local de calma, tranquilidade e aconchegante, envolto de natureza que traz paz e tranquilidade.

A disposição das madeiras é feita com a técnica de ensambladura, que consiste em não utilizar sequer um prego ou parafuso, apenas montagens e encaixes. Suportadas por estruturas metálicas que as distanciam do piso.



 

Não só no projeto da Sound Box, como em todos os outros demonstrados aqui, vemos a linha de raciocínio que Zumthor utiliza no seu processo de criação. Embora a forma de seus projetos seja consideravelmente bela, não é na forma que ele foca quando está projetando. Ele prefere projetar pensando em materiais e espaço. Como o local deve ser para cumprir seu propósito. No seu processo de criação ele imagina como seria habitar aquele espaço que está criando. Quais experiências, vivências e sensações seriam possíveis ali. Para ele a forma, estrutura, função e materiais devem ser intrinsecamente relacionados. De modo que cada elemento seja indispensável na composição e descaracterize-a se retirado.

Ele reverencia a arquitetura e reconhece seu valor. Para ele, o livro se escreve sozinho e esta visão deixa explícito que a obra em si, é mais importante do que as vontades do artista. A importância da arte é tanta que ele desde criança em sua experiência de confecção de móveis, trabalha a obra como um todo, sem deixar mal acabadas partes que eventualmente não seriam vistas ou não fossem a principal.


Pater Zumthor diz que não é possível comprar a arquitetura dele. Se uma pessoa rica pedir-lhe que faça uma casa bacana ele simplesmente diz não. Ele precisa ter interesse pessoal pelo projeto. Para nós meros mortais parece algo inatingível e até um tanto presunçoso. Porém, desta afirmação a lição que tiramos é que a arquitetura e os prédios têm integridade e propósito. Muitas vezes nos esquecemos disso e atendemos cliente atrás de cliente no modo automático. Não é necessário negar projetos para lembrar que eles possuem integridade e devem ter também uma identidade.

Integridade e identidade são coisas diferentes. Zumthor criou uma identidade que tentamos descrever neste artigo. Uma identidade que remete à natureza, que transmite experiências sensoriais complexas, que possui atmosferas muito demarcadas e elaboradas. A parte da integridade, para ele está em não abrir mão disso, pelo bem dos projetos e de sua arte.


O modo que Peter Zumthor vê a arte e a arquitetura, o fato de ele saber que o mais relevante é o espaço e como será habita-lo, faz com que eu me identifique muito com sua arte. Deveríamos tomar como reflexão a visão que ele tem da arquitetura e de suas criações. Uma visão mais profunda da essência das coisas, deve apenas acrescentar e enriquecer.






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